O “Velho”. Esse foi o epíteto com que se
tornou célebre o violinista e compositor Jean-Marie Leclair, nascido em Lyon,
no dia 10 de maio de 1697, e falecido em Paris, em 22 de outubro de 1764.
Apesar de considerado o “pai” da escola
francesa de violino, a obra de Leclair não goza de ampla popularidade junto ao
público (dentro da própria França ele é um ilustre desconhecido). Na realidade, é difícil supor que um compositor erudito e do período barroco
venha a se tornar minimamente conhecido em tempos de mediocrização cultural
acentuada pelo apego à música pop (em geral, de péssima qualidade). Só o extraordinário
Johann Sebastian Bach conseguiu torna-se um artista de obra bem difundida. E mesmo assim com muitas ressalvas, já que poucos ouvintes
vão além de “Jesus, Alegria dos Homens” – que, por sinal, é apenas um dos
andamentos da cantata Herz und Mund und
Tat und Leben (BWV 147).
Esclarecido esse contexto, é com grande
alacridade que me ponho a recomendar aos leitores do blogue Metamorfose do Mal,
apreciadores da cultura erudita, a obra de Jean-Marie Leclair. Não somente pelo
fato de que seu conhecimento é fundamental para entender, de modo aprofundado,
o barroco europeu (sem dúvida, o período da história universal da música que é
o meu favorito), mas também por reunir pérolas de beleza que engrandeceram
enormemente o repertório deste instrumento apaixonante - o violino.
A obra de Leclair basicamente está escorada
na composição de sonatas (Op. 1 a 15). Dedicadas ao violino, nota-se a
exploração das escalas dentro do espectro da harmonia barroca quase sempre em
tonalidades maiores. Uma delas é a “Sonata para violino nº 3 em Ré Maior” (Op.
9), cuja gravação que escolhi é executada por um dos grandes violinistas do
século XX, o polonês Henryk Szeryng (1918-1988).
Na execução da peça, nota-se a característica
da sonata, enquanto forma de composição musical na era barroca, isto é, a escrita
na partitura voltada propositalmente a destacar o solista de instrumento de
cordas. Na gravação feita por Szeryng, o acompanhamento é feito pelo pianista egípcio
Tasso Janopoulo.
O leitor interessado na biografia de
Jean-Marie Leclair descobrirá que o francês teve um fim trágico: ele foi esfaqueado até a morte. A identidade
do assassino permanece controversa até hoje. Mas não há controvérsia quanto à qualidade
da obra deixada pelo Velho, que o tempo já cuidou de sedimentar como
proveniente da mente de um dos mais talentosos compositores de toda a história da
França.
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